Sorriso largo...

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

ROTEIRO DE ESTUDO POÉTICO EM CORDEL

Maria Rosário Pinto

Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro – Secretaria Municipal de Educação
Gerência de Leitura e Audiovisual
Curso Versos de Cordel na Cena Carioca

Esta proposta pretende apresentar um panorama da história da literatura de cordel – suas origens; chegada ao Brasil; sedimentação no Nordeste, o caminho para o Sudeste por meio de poetas que migraram em busca de melhores condições de vida e de trabalho, na primeira metade do século XX.

-        o caráter de oralidade, tradição dessa literatura, mesmo nos textos escritos e impresso em Tipografias ou Gráficas;

-        a oralidade como fonte de transmissão de um saber e fazer literário que foram transmitidos de geração a geração;

-        a riqueza das expressões da poética popular;

-        a importância histórica da produção de folhetos de cordel é extremamente relevante, e desafia os tempos modernos mantendo-se atuante e em constante evolução e crescimento;

-        o caráter de permanência de uma forma de expressão poética que chegou ao Brasil, na bagagem dos primeiros colonizadores e atravessa os tempos;

-        a resistência dos mercados editoriais, que não investem nessa forma de expressão poética e o seu modo de fazer;

-        a dinâmica que faz a literatura de cordel manter-se atual, sem contudo, perder a sua identidade, o que a diferencia de outras formas e expressões e modo de fazer poético, a flexibilidade no acompanhamento e adaptação às modernas mídias;

-        a formação de novos poetas com olhos voltados para àqueles que lutaram para a preservação e difusão dessa linguagem poética tão rica e única; e,

-        a maior participação da mulher como autora.

O projeto de registro da literatura de cordel como BEM DE PPATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO solicitado pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel recebeu o AVAL definitivo em 19 de setembro de 2018. Justifica-se face à necessidade de manter viva uma literatura tão importante para a comunidade de poetas de cordel, leitores e admiradores, para a rede de ensino, como ferramenta fundamental de estímulo a alunos e professores e a população como um todo. A produção de folhetos de cordel desafia os tempos modernos mantendo-se atuante. Percebe-se, inclusive, a formação de novos poetas, decorrente de oficinas realizadas com olhos voltados para aqueles que lutaram para a preservação e difusão dessa forma de expressão e linguagem poética tão rica e única.
A função de oralidade que a literatura de cordel exerce como fonte de transmissão, e a peculiaridade das expressões poéticas e do saber e fazer literário, são transmitidas de geração a geração. O poeta cordelista é, sobretudo, um atento observador dos processos de atualização da sociedade em sua estrutura social, política e/ou tecnológica. A partir de suas percepções, compõem-se versos: ora de improviso (versos cantados - cantorias), ora impressos (versos em forma de folhetos).

É notável também o papel da literatura de cordel como função social de refletir os problemas populares e suas contradições estruturais entre os diversos grupos sociais. Através dela, vêem os seus problemas projetados, e encontram no cordel uma forma de expressar suas próprias soluções, mesmo quando de forma meramente simbólica. Além disso, a literatura de cordel circula como elemento de ligação e de formação cultural, por ter sido fonte de informação e conhecimento para populações afastadas, e por ter significado os caminhos pelos quais os poetas populares conseguiram interpretar o mundo, questioná-lo e inferir suas posições e transmitir suas tradições.
Para turmas de alunos na faixa etária dos 9 aos 13 anos, ainda iniciando a formação de conhecimentos gramaticais e literários, optamos por dar maior evidência a:
*
1. Situar a literatura de cordel - desde os seus primórdios até nossos dias;
ênfase ao caráter de oralidade da poesia de cordel em seus primórdios. Oriunda do canto, das canções infantis, cantigas de roda lendas e histórias contadas desde idos tempos e episódios locais;
2. Apresentação do folheto - sua formatação gráfica e ilustração das capas – tamanho; capas em desenho, cartazes de cinema, cartões postais e xilogravuras;
3. Estruturação - as quadras, trovas, sextilhas e setilhas e décimas com métrica e rima e oração, numa cadeia de forma, ritmo e coerência.
3.1.  Quadra – estrofe de quatro versos de sete sílabas, rimando o com o (ABCB), podendo ter o sentido complementado em outras quadras.
Eu que sou uma aprendiz - A
Fico na observação - B
Escrevendo minhas quadras - C
Com amor e emoção - B
(Rosário)

Da roseira nasce a rosa,- A
Que antes foi um botão -B
Mas depois que a rosa murcha – C
As pétalas caem no chão. – B
(Dalinha)

3.2.  Trova – estrofe de quatro versos de sete sílabas, rimando o com o (ABAB), ou, de forma alternada, dando-lhe um sentido completo.
Cordel de Saia pretende – A
Agregar as cordelistas – B
A mulher, quase duende! - A
Expondo suas conquistas – B
(Rosário)

Cuidar bem da natureza - A
Sei que é nossa obrigação – B
Vamos pensar na beleza - A
De não ter poluição – B
(Dalinha)

4. Sextilhas – estrofe de 6 versos (sextilhas) e, 7 sílabas métricas – rimando o 2º com o e com o – esclarecer para o aluno a diferença entre sílaba gramática e métrica. Ex:
O sol ilumina o dia -
E aquece nosso planeta -
É chamado de astro rei,
Ele se vê sem luneta –
Aprendi esta lição
Foi com a tia Julieta.-
(Dalinha)

Durante o mês do folclore
É sempre tempo de festa –
Tem brinquedo e brincadeira
Mas também tem a seresta –
Canções, rezas e benditos
E histórias da floresta –
(Rosário)

5. Setilhas – estrofe de 7 versos (setilhas) e 7 sílabas métricas – rimando o com o e com o e, o com o (trabalhar de em outros momentos)
Minha mãe fazia versos,
E gostava de declamar. -
Foi professora primaria,
Com ela aprendi a rimar. -
Ter gosto pela cultura, -
Abraçar a literatura, -
E o velho cordel amar. -
(Dalinha)

Durante o mês do folclore
É sempre tempo de festa –
Tem brinquedo e brincadeira
Mas também tem a seresta -
Canções, rezas e benditos -
Contos, parlendas e mitos  -
E histórias da floresta - 7º
(Rosário)

6. Décimas – estrofe de 10 versos (decassílabos) e 10 sílabas (decassílabos) - (trabalhar em outros momentos). As         décimas tem várias formas de rimas. Uma das formas mais comuns é: ABBAACCDDC.m
O cordel hoje é manchete.
Está na mídia virtual.
Antes, ele foi oral.
Passou pelo ofsete.
Namora com a internet.
Com toda tranquilidade,
Mostra versatilidade,
Dela tira seu proveito,
Tem com ela laço estreito.
Brinca, qual marionete.
(Rosário Pinto)

7. Métrica - medida, o tamanho de cada verso: 7 sílabas métricas (sílabas fonológicas, não morfológicas):
Cor/del/ é/ li/te/ra/tu/ra – 7 sílabas métricas, finalizando na última sílaba tônica ou seja, a sílaba mais forte;
8. Estrofação – as várias modalidades de estrofes – quadras, sextilhas, setilhas, décimas;
9. Oração – o encadeamento dos versos, composição com princípio/meio e fim. Esta orientação serve para inserir conteúdos também de textos em narrativa;
10. Riqueza de expressão – cuidado no uso de expressões poéticas;
11. Permanência – observar a permanência dessa forma de expressão poética que chegou ao Brasil, na bagagem dos primeiros colonizadores e atravessa os tempos;
12. Importância – constatar a pertinência do uso da literatura de cordel como ferramenta adicional no âmbito escolar evidenciando o caráter lúdico e atual, podendo ser utilizada por professores em todas as disciplinas da grade escolar;
13. Motivação - despertar nos alunos face às múltiplas possibilidades de busca em feiras populares e em sites e blogs na internet; despertar o interesse criativo, objetivando extrair do aluno temas de seu dia a dia;
14. Estímulo a pesquisa – utilizar a internet, como ferramenta de trabalho, realizar pesquisas em sites e blogs específicos;
15. Temáticas/assuntos - abordar assuntos de interesse do aluno e de seu grupo;
16. Cotidiano – relato da vida diária de cada um (a família / a escola/ o bairro / a cidade / interesses pessoais).
17. Fatos mais recorrentes - nas mídias (rádio / televisão / jornais/ etc.);
18. Notícia (o poeta como repórter dos fatos ocorridos, hoje, o poeta não é mais a fonte de informação como no passado, ele analisa a notícias e faz uma espécia de crônica opinativa);
19. Olhar do poeta – o poeta é um sagaz observador da realidade que o cerca e do mundo, sempre atento a tudo que se passa a sua volta e no mundo. Mantem-se constantemente informado e reflete sobre os acontecimentos para transformá-los em poesia.
Estes são os pontos mais básicos no estudo da literatura de cordel. Há outras modalidades para serem estudadas mais à frente, quando estas primeiras estiverem bem fixadas.

Realize suas pesquisas no Site do CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E CULTURA POPULAR/CNFCP/Iphan/MinC - A Biblioteca Amadeu Amaral disponibiliza mais de 10 mil exemplares de folhetos de cordel para leitura on-line. ACESSE: Acervos Digitais.

Academia Brasileira de Literatura de Cordel
CORDEL DE SAIA
ROSARIO PINTO
CORDEL DE SAIA
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A partir dessas possibilidades, você poderá navegar em toda a Cordelteca – Memória da Literatura de Cordel/Biblioteca Amadeu Amaral/CNFCP. As buscas podem ser selecionadas por título, por autor ou por assunto.

Veja ainda : Revista Brasileira de Folclore – 41 fascículos, todos digitalizados e possíveis de baixar para pc. Do nº 01 (1961) ao nº 41 (1975).

Experimente, não tenha medo!

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