Maria
Rosário Pinto
Prefeitura
da cidade do Rio de Janeiro – Secretaria Municipal de Educação
Gerência
de Leitura e Audiovisual
Curso Versos
de Cordel na Cena Carioca
Esta
proposta pretende apresentar um panorama da história da literatura de cordel –
suas origens; chegada ao Brasil;
sedimentação no Nordeste, o caminho para o Sudeste por meio de poetas que migraram
em busca de melhores condições de vida e de trabalho, na primeira metade do
século XX.
-
o
caráter de oralidade, tradição dessa
literatura, mesmo nos textos escritos e impresso em Tipografias ou Gráficas;
-
a
oralidade como fonte de transmissão de um saber e fazer literário que
foram transmitidos de geração a geração;
-
a
riqueza das expressões da poética popular;
-
a
importância histórica da produção de folhetos de cordel é extremamente
relevante, e desafia os tempos modernos mantendo-se atuante e em constante
evolução e crescimento;
-
o
caráter de permanência de uma forma de expressão poética que chegou ao Brasil,
na bagagem dos primeiros colonizadores e atravessa os tempos;
-
a
resistência dos mercados editoriais, que não investem nessa forma de expressão
poética e o seu modo de fazer;
-
a
dinâmica que faz a literatura de cordel manter-se atual, sem contudo, perder a
sua identidade, o que a diferencia de outras formas e expressões e modo de
fazer poético, a flexibilidade no acompanhamento e adaptação às modernas
mídias;
-
a
formação de novos poetas com olhos voltados para àqueles que lutaram para a
preservação e difusão dessa linguagem poética tão rica e única; e,
-
a
maior participação da mulher como autora.
O projeto de registro da
literatura de cordel como BEM DE PPATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO solicitado
pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel recebeu o AVAL definitivo em
19 de setembro de 2018. Justifica-se face à necessidade de manter viva uma
literatura tão importante para a comunidade de poetas de cordel, leitores e
admiradores, para a rede de ensino, como ferramenta fundamental de estímulo a
alunos e professores e a população como um todo. A produção de folhetos de
cordel desafia os tempos modernos mantendo-se atuante. Percebe-se, inclusive, a
formação de novos poetas, decorrente de oficinas realizadas com olhos voltados
para aqueles que lutaram para a preservação e difusão dessa forma de expressão
e linguagem poética tão rica e única.
A função de oralidade
que a literatura de cordel exerce como fonte de transmissão, e a peculiaridade
das expressões poéticas e do saber e fazer literário, são
transmitidas de geração a geração. O poeta cordelista é, sobretudo, um atento
observador dos processos de atualização da sociedade em sua estrutura social,
política e/ou tecnológica. A partir de suas percepções, compõem-se versos: ora
de improviso (versos cantados - cantorias), ora impressos (versos em forma de
folhetos).
É notável também o papel da literatura
de cordel como função social de refletir os problemas populares e suas contradições
estruturais entre os diversos grupos sociais. Através dela, vêem os seus
problemas projetados, e encontram no cordel uma forma de expressar suas
próprias soluções, mesmo quando de forma meramente simbólica. Além disso, a
literatura de cordel circula como elemento de ligação e de formação cultural,
por ter sido fonte de informação e conhecimento para populações afastadas, e
por ter significado os caminhos pelos quais os poetas populares conseguiram
interpretar o mundo, questioná-lo e inferir suas posições e transmitir suas
tradições.
Para
turmas de alunos na faixa etária dos 9 aos 13 anos, ainda iniciando a formação
de conhecimentos gramaticais e literários, optamos por dar maior evidência a:
*
1. Situar
a literatura de cordel - desde os seus primórdios até nossos dias;
ênfase ao caráter de oralidade da poesia de cordel em seus primórdios. Oriunda do canto, das canções infantis, cantigas de roda lendas e histórias contadas desde idos tempos e episódios locais;
ênfase ao caráter de oralidade da poesia de cordel em seus primórdios. Oriunda do canto, das canções infantis, cantigas de roda lendas e histórias contadas desde idos tempos e episódios locais;
2. Apresentação
do folheto - sua formatação gráfica e ilustração das capas – tamanho; capas
em desenho, cartazes de cinema, cartões postais e xilogravuras;
3. Estruturação
- as quadras, trovas, sextilhas e setilhas e décimas com métrica e rima e
oração, numa cadeia de forma, ritmo e coerência.
3.1. Quadra – estrofe de quatro versos de
sete sílabas, rimando o 2º com o 4º (ABCB), podendo ter o sentido
complementado em outras quadras.
Eu que sou uma aprendiz - A
Fico na observação - B
Escrevendo minhas quadras - C
Com amor e emoção - B
(Rosário)
Da roseira nasce a rosa,- A
Que antes foi um botão -B
Mas depois que a rosa murcha – C
As pétalas caem no chão. – B
(Dalinha)
3.2. Trova – estrofe de quatro versos de sete sílabas, rimando o 2º com o 4º (ABAB), ou, de forma alternada, dando-lhe um sentido completo.
Cordel de Saia pretende – A
Agregar as cordelistas – B
A mulher, quase duende! - A
Expondo suas conquistas – B
(Rosário)
Cuidar bem da natureza - A
Sei que é nossa obrigação – B
Vamos pensar na beleza - A
De não ter poluição – B
(Dalinha)
4. Sextilhas – estrofe de 6 versos (sextilhas) e, 7 sílabas métricas – rimando o 2º com o 4º e com o 6º – esclarecer para o aluno a diferença entre sílaba gramática e métrica. Ex:
O sol ilumina o dia -
E aquece nosso planeta - 2º
É chamado de astro rei,
Ele se vê sem luneta – 4º
Aprendi esta lição
Foi com a tia Julieta.- 6º
(Dalinha)
Durante o mês do folclore
É sempre tempo de festa – 2º
Tem brinquedo e brincadeira
Mas também tem a seresta – 4º
Canções, rezas e benditos
E histórias da floresta – 6º
(Rosário)
5.
Setilhas – estrofe de
7 versos (setilhas) e 7 sílabas métricas – rimando o 2º com o 4º e com o 7º e, o 5º com o 6º (trabalhar de em outros
momentos)
Minha mãe fazia versos,
E gostava de declamar. - 2º
Foi professora primaria,
Com ela aprendi a rimar. - 4º
Ter gosto pela cultura, - 5º
Abraçar a literatura, - 6º
E o velho cordel amar. - 7º
(Dalinha)
Durante o mês do folclore
É sempre tempo de festa – 2º
Tem brinquedo e brincadeira
Mas também tem a seresta - 4º
Canções, rezas e benditos - 5º
Contos, parlendas e mitos - 6º
E histórias da floresta - 7º
(Rosário)
6. Décimas – estrofe de 10 versos (decassílabos)
e 10 sílabas (decassílabos) - (trabalhar em outros momentos). As décimas tem várias formas de rimas. Uma
das formas mais comuns é: ABBAACCDDC.m
O cordel hoje é
manchete.
Está na mídia virtual.
Antes, ele foi oral.
Passou pelo ofsete.
Namora com a
internet.
Com toda tranquilidade,
Mostra versatilidade,
Dela tira seu
proveito,
Tem com ela laço
estreito.
Brinca, qual
marionete.
(Rosário Pinto)
7. Métrica
- medida, o tamanho de cada verso: 7 sílabas métricas (sílabas fonológicas, não
morfológicas):
Cor/del/ é/ li/te/ra/tu/ra
– 7 sílabas métricas, finalizando na última sílaba tônica ou seja, a sílaba
mais forte;
8. Estrofação – as várias
modalidades de estrofes – quadras, sextilhas, setilhas, décimas;
9. Oração – o encadeamento dos
versos, composição com princípio/meio e fim. Esta orientação serve para inserir
conteúdos também de textos em narrativa;
10. Riqueza de expressão – cuidado no uso de expressões
poéticas;
11. Permanência – observar a
permanência dessa forma de expressão poética que chegou ao Brasil, na bagagem
dos primeiros colonizadores e atravessa os tempos;
12. Importância
– constatar a pertinência do uso da literatura de cordel como ferramenta
adicional no âmbito escolar evidenciando o caráter lúdico e atual, podendo ser
utilizada por professores em todas as disciplinas da grade escolar;
13. Motivação
- despertar nos alunos face às múltiplas possibilidades de busca em feiras
populares e em sites e blogs na internet; despertar o interesse criativo,
objetivando extrair do aluno temas de seu dia a dia;
14. Estímulo
a pesquisa – utilizar a internet, como ferramenta de trabalho, realizar
pesquisas em sites e blogs específicos;
15. Temáticas/assuntos
- abordar assuntos de interesse do aluno e de seu grupo;
16. Cotidiano
– relato da vida diária de cada um (a família / a escola/ o bairro / a cidade /
interesses pessoais).
17. Fatos
mais recorrentes - nas mídias (rádio / televisão / jornais/ etc.);
18. Notícia
(o poeta como repórter dos fatos ocorridos, hoje, o poeta não é mais a fonte de
informação como no passado, ele analisa a notícias e faz uma espécia de crônica
opinativa);
19. Olhar
do poeta – o poeta é um sagaz observador da realidade que o cerca e do
mundo, sempre atento a tudo que se passa a sua volta e no mundo. Mantem-se
constantemente informado e reflete sobre os acontecimentos para transformá-los
em poesia.
Estes
são os pontos mais básicos no estudo da literatura de cordel. Há outras
modalidades para serem estudadas mais à frente, quando estas primeiras
estiverem bem fixadas.
Realize
suas pesquisas no Site do CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E CULTURA
POPULAR/CNFCP/Iphan/MinC - A Biblioteca Amadeu Amaral disponibiliza mais de 10 mil
exemplares de folhetos de cordel para leitura on-line. ACESSE: Acervos Digitais.
Academia
Brasileira de Literatura de Cordel
CORDEL
DE SAIA
ROSARIO
PINTO
CORDEL
DE SAIA
.
A
partir dessas possibilidades, você poderá navegar em toda a Cordelteca –
Memória da Literatura de Cordel/Biblioteca Amadeu Amaral/CNFCP. As buscas podem
ser selecionadas por título, por autor ou por assunto.
Veja ainda :
Revista Brasileira de Folclore – 41 fascículos, todos digitalizados e possíveis
de baixar para pc. Do nº 01 (1961) ao nº 41 (1975).
Experimente, não
tenha medo!
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