Sorriso largo...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Preparação Sítio ABLC


Caros amigos,

Convidada por Fernando Assumpção, Gestor de Projetos da ABLC e responsável pela classificação do Projeto - Revitalização do Sitio: www.ablc.com.brpremiado no Edital de Concurso Público nº 4/2010 – Edição Patativa do Assaré - 2010, na categoria Difusão – Iniciativas Existentes, conquistando o primeiro lugar, com 92 pontos, para montar as memórias poéticas do Quadro de Acadêmicos da ABLC, me vi junta e misturada com muitas histórias de vida e de poesia. Pois é... neste trabalho em busca de fazer o melhor de nós... lembrei de um biografia que preparei e comecei a colocá-la em forma mais sucinta. E qual é essa memória? De ninguém mais do que José Soares, o poeta repórter. Decidi, então, trazê-la inteira para vocês. Extraída de pesquisa em seus folhetos e em biografias publicadas, deixo aqui esse relato:

José Soares, o poeta repórter

A literatura de cordel, em suas várias vertentes temática aborda os fatos do cotidiano local e do mundo – o que os estudiosos e também os poetas chama de literatura de acontecidos, de época ou jornalística.
O poeta paraibano José Francisco Soares, (1914 – 1981), se especializou no viés jornalístico da literatura de cordel e, podemos afirmar que foi o maior poeta desse gênero no Brasil, daí ter recebido a alcunha de “o poeta repórter”.  Suas obras foram centradas na notícia, lia vários jornais diariamente, além de ouvir programas de rádio para manter-se no foco dos principais acontecimentos.A partir de suas leituras fazia a análise dos acontecimentos. Era perito em identificar notícias que despertavam o interesse de seus leitores e recriá-las na forma poética, produzindo folhetos com uma rapidez nunca vista, para vendê-los enquanto a notícia não caia no esquecimento. Desde a infância estava mergulhado na literatura de cordel, tinha familiares envolvidos com a composição poética, como seu primo, o violeiro Agostinho Lopes dos Santos e seu tio Inácio da Catingueira, um dos mais célebres cantadores do Nordeste de todos os tempos. Quando criança passou mais tempo nas feiras e mercados, fazendo biscates e ouvindo os cantadores e poetas.
 Na maturidade, escreveu folheto autobiográfico (escrito na terceira pessoa), no qual relata a memória dos tempos em que acompanhava poetas e cantadores nas feiras:

 “ Quando ele viu na feira
Aquela roda de gente
Se esquecia de tudo
Saía ligeiramente
Pra ver se era folhetos
Ou cantador de repente

Se acaso fosse um poeta
Cantando um livro engraçado
Ele não sentia fome
Ficava lá escorado
E só saía no fim
Quando visse o resultado.”


José Soares não foi apenas o poeta da notícia. Escreveu folhetos sob a temática do gracejo, histórias de milagres, relatos da vida dos sertanejos e teve uma vasta produção sobre uma de suas grandes paixões – o futebol. Como a maioria dos poetas de sua época, além de escrever participava de todo o processo de produção do folheto: criação, composição gráfica, impressão, divulgação e venda. Era comum vê-lo à porta de estádios de futebol com o folheto do jogo, que acabara de se realizar. Sua veia jornalística propiciava-lhe aprontar o folheto com antecedência, deixando apenas o título e o resultado para serem preenchidos.
Publicou seu primeiro folheto aos 14 anos, intitulado Descrição do Brasil por estados. Aos quinze anos fica órfão de pai e mãe e se vê responsável pelos irmãos e todo o sustendo da família. Poeta como Manuel D'Almeida Filho e Manoel Camilo dos Santos foram grandes incentivadores do jovem poeta. Como era difícil viver só de poesia, trabalhou em várias atividades, mas dedicou-se mais à de pedreiro, em Recife, Rio de Janeiro e Niterói, entre outras cidades.
Em 1958, alugou um espaço ao lado do Mercado São José, em Recife, para instalar sua banca de revistas, para a qual deu o nome de Barraca Tricolor, em homenagem ao seu time do coração, o Santa Cruz. Estava feito! Com um banca de jornais podia fartar-se de ler e se abastecer de notícias para a criação de seus versos e venda de folhetos. Em 1969, torna-se editor de folhetos, estabelecendo a Gráfica Tricolor, em Casa Amarela. Constituiu uma ampla rede de distribuidores por todo o nordeste.
Aliás, a distribuição de folhetos por revendedores e cegos cantadores em praças, constituiu uma fonte de economia, mesmo com pequenos ganhos o poeta manteve a si e a outros, como folheteiros, cegos e revendedores/distribuidores em outros municípios e mesmo outros estados. Esta posição nos evidencia o caráter de solidariedade do poeta de cordel.
A rapidez e o sucesso conquistados na confecção dos folhetos despertaram o interesse de políticos, que faziam encomendas nas ocasiões de campanhas eleitorais. José Soares nunca declamava ou cantava, era um tradicional “poeta de bancada”.
Como todo poeta de cordel, nunca teve vida tranquila ou sedentária. Casou-se 3 vezes e teve muitos filhos. Do terceiro casamento foram seis filhos, um dos quais herdou o dom da arte popular-, o xilógrafo e poeta Marcelo Soares, que desde muito pequeno o acompanhava na venda dos cordéis.
Outro folheto de grande receptividade foi o A morte do bispo de Garanhuns, Dom Expedito Lopes, que vendeu mais de 108 mil exemplares, em que disse:

“ Garanhuns esta de luto:
Numa bisonha manhã
Foi morto dom Expedito,
Um bispo de alma sã,
Pelo revolver dum padre
Partidário de Satã.

Sim, leitores esse padre,
Com seu instinto pagão,
Com três tiros de revolver
Prostrou sem vida no chão
A dom Expedito Lopes,
Príncipe da religião.”

José Soares sabia cativar seus leitores com a qualidade de seus versos, fosse pelas rimas, métricas e orações. Empregava metáforas simples, mas capazes de despertar emoções. Vejam os versos:

“ Dom Expedito gemia
Se contorcendo de dores;
Ele, sendo tão pacato,
Nunca pensou em horrores;
Estava em leito de espinhos
Quem tanto cuidou de flores!”


Nas duas últimas estrofes desse título, José Soares demonstra toda a sua maestria compondo em setilhas, dando mais força à conclusão do folheto.

“ O mundo é um vale de lágrimas,
A morte, temos por certo;
Nossa vida é por enquanto,
Nosso túmulo vivo aberto;
Contente o bispo vivia
Porque ainda não sabia
Que a morte estava tão perto.

Termino caros leitores,
Nada mais tenho a dizer;
O triste acontecimento
Estou disposto a vender;
De um jornal escrevi,
Porque lá não assisti:
Melhor não pude fazer.”

Nos últimos anos de sua vida, tinha a saúde bastante abalada, mas não esmorecia na produção de folhetos, o último título publicado foi O incêndio das barracas de fogos em Garanhuns, concluído duas semanas antes de sua morte. Morreu, em 1981, em Timbaúba, onde vivia nos últimos anos.
Teríamos ainda muito a dizer dessa passagem tão rica que foi a vida e a obra de José Francisco Soares, José Soares ou Zé Soares, mas SEMPRE, o poeta repórter!!!!!

Maria Rosário Pinto
2010

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