Sorriso largo...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O poeta e o folheteiro

O trabalho com a catalogação de folhetos de cordel, na Biblioteca Amadeu Amaral/CNFCP/Iphan/MinC, por mais de quinze anos de estudos diários para oferecer a melhor forma de recuperação dos conteúdos de cada autor/folheto, me levaram ao atrevimento da composição poética. A literatura popular me acompanha desde criança na figura de meu pai, leitor voraz de Zé da Luz, Catullo da Paixão Cearense, dentre tantos outros. Hoje me sinto  à vontade para exibir meus versos e, certamente aberta às intervenções dos  demais poetas, por quem criei afeto e admiração. A eles, agradeço o estímulo que tenho recebido. Este folheto foi editado pelo mestre Manoel Monteiro da Silva, á quem dedico meu especial agradecimento. À amiga e parceira Dalinha Catunda, do blog Cordel de Saia, sou grata pela generosidade das revisões e do desenho de capa. Vamos lá, leia


   O poeta e o folheteiro

1

Dois figurões importantes
Neste mundo do cordel,
Um compõe o outro vende
Cada qual faz seu papel,
Marcando assim, uma vida
De poesia, sortida
Divulgando o menestrel
2
LEANDRO foi precursor
A narrar toda esta saga
Do folheto  de cordel
Que até hoje se propaga
Por este Brasil inteiro
Por isto que o pioneiro
Da lembrança não se apaga...
3
Poeta e grande tipógrafo
Seus romances imprimia
Entregando ao folheteiro
Que logo os distribuía
A correr feiras e vilas
Com o povo fazendo filas
Para comprar poesia.
4
Poucos recursos havia,
O comércio era precário
Mas, sustentou muita gente,
Vendendo de: Abecedário
Aos Romances de Amor,
De Aventura, de Terror,
Pelejas e Anedotário.
5
Por sítios, vila e cidade,
Viajando toda a vida
Seu Leandro produzindo
E o folheteiro na lida
Apurando alguns mil réis,
Com a venda dos cordéis
Tinha a renda garantida.
6

O folheteiro enfrentava
Todo impasse e obstáculo
Andando de sol a sol
Em busca do espetáculo
De ver o povo sorrir
Pensar, amar, refletir
Fazendo do verso oráculo.
7
LEANDRO compôs mais de mil
Títulos que foram vendidos,
A tipografia era
Um trabalho de aguerridos
O seu eterno borralho
Foi montando o cabeçalho,
Folheteiros atendidos
8
As ferramentas mudaram
Esta bela profissão
O folheteiro hoje vende
Folhetos em profusão,
Mas, nas Redes Sociais,
Não nas feiras naturais
Como foi na ocasião.
9
O folheteiro capaz
Na sua incansável lida
Nunca teve outro ofício
E assim impelia a vida
De carroça ou Jumento
Levando contentamento
E tendo boa acolhida.
10
Mas LEANDRO adoeceu,
Deixando um acervo abundante
Que a viúva resolveu
Vender e no mesmo instante,
ATHAYDE, um homem rico,
Propôs à viúva: Eu fico!
Comprando todo o montante.
11
A evolução do mundo
Muda a distribuição,
Hoje em Bancas de Revistas
E livraria são
Expostos e oferecidos
Nossos cordéis que são lidos
Nas escolas da nação.
12
Naqueles tempos de outrora
ATHAYDE rebanhou
Cegos e homens do povo
Por bom preço os contratou
P’ra venderem seus livretos,
Cordéis hoje, ontem folhetos,
Que LEANDRO lhe deixou.
13
Em seu nome colocou
Toda aquela produção
Os seus e os de Leandro
Sem qualquer má intenção
Pois naquele tempo as Leis
Sem quaisquer Decretos-Leis
Não tinham divulgação
14
DELARME tinha um estoque
Para distribuição
JOÃO JOSÉ o procurou
Precisava ganhar pão
No Beco do Seridó
Muito empenhado que só
Montou ali seu Galpão.
15
Negócio de pouca monta,
Porém de grande amplidão,
Apesar da pouca renda
Dava ganho e profissão
Para os distribuidores
Todos eles vendedores
Dali tiravam seu pão
16
Um outro grande editor,
ZÉ BERNARDO, este um romeiro,
Vendendo quinquiharias
Seguiu para o Juazeiro,
Encontrou pelo caminho
Viajando em seu burrinho
O vendedor folheteiro
17
Ele que de longe vinha
Pra cumprir sua promessa
Conhecer o Padre Cícero,
Andava sempre depressa
Pra chegar no dia certo
Estava, portanto, “alerto”
Isto ao padre ele confessa.
18
Sempre havia aquele que
Fazia todo o papel
De escrever e imprimir,
Vender por ser menestrel;
Fez do folheto seu lema
Tendo o sertão como tema
E o verso como corcel.
19
MINELVINO foi um deles,
Bardo, gráfico, menestrel,
Imprimiu, criou, vendeu,
Foi sempre esse o seu papel,
Tinha muita produção
Ensinou toda a lição
Sua vida era um tropel.
20
RODOLFO COELHO veio
Juntar a categoria
De poeta a cantador
Criando a benfeitoria
De um CONGRESSO pioneiro
De TROVADOR E VIOLEIRO
Para orgulho da Bahia
21 
Espalhou pelo Brasil
Um ideal altaneiro
Com esse primeiro Congresso
De Trovador e Violeiro
No ano 55
Implantou com grande afinco
Ecoou no mundo inteiro
22
Para conhecer melhor
Seus poetas, cantadores
Que corriam este país
Com versos acolhedores
Dessa poesia impressa
COELHO fazia remessa
Aos seus distribuidores.
23
O jornal daquele tempo
Era os versos de um cordel,
JOSÉ SOARES, que era
O repórter menestrel
Se o rádio dava a notícia
Ele, com muita perícia,
Passava para o papel...
24
Foi repórter de seu tempo,
Narrava com precisão
As notícias que ouvia
Com a metrificação
Nunca perdeu uma rima
Sempre com ela se anima
Mantendo boa oração.
25
Para não interromper
O ato da criação
Vou expondo, à vontade,
Resquícios de uma visão
Que já publiquei em prosa
A verdade desta ação.
26
Estes versos que vieram
De tanta leitura feita
Deixo aos poetas, colegas,
Dirimir qualquer desfeita
Deixe aqui seu comentário
Ou faça um abecedário
Dessa memória imperfeita
(Rosário Pinto)
Rio,de Janeiro,  2012

Títulos publicados:

Pinto, Maria Rosário. Catalogação de cordel. Rio de Janeiro, RJ: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2012. 16 p

Biblioteca Amadeu Amaral; Pinto, Maria Rosário de Fátima. Catalogação de folhetos de cordel. Rio de Janeiro: Funarte, CNFCP, 2002. 32 p. : il. (Cadernos técnicos; 1).

O universo do cordel. Pesquisa e entrevistas: Pedro Afonso Vasquez, Rosane Karp Vasquez, Textos: Maria Rosário Pinto, Pedro Afonso Vasquez, Fotos: Gustavo Maia, Gustavo Moura, Pedro Afonso Vasquez, Tradução: Carolyn Brissett. Recife: Instituto Cultural Banco Real, 2008. 60 p. il. color. Edição bilíngue: português e inglês

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