(Maria Rosário Pinto)
A
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origem da literatura de cordel vem da Idade Média, da poesia trovadoresca portuguesa, em que os poetas andam de burgo em burgo, castelo em castelo. Os poetas nordestinos iam de feira em feira ou de cidade em cidade, seguindo o ciclo das festas religiosas, numa transposição da vida cultural da Europa daquela época. Os poetas da Idade Média eram hierarquizados socialmente e, recebiam nomes como: trovador, jogral, menestrel e segrel, tudo, de acordo com sua produção. O trovador era o artista completo, de origem nobre – compunha e interpretava suas cantigas, em receber qualquer tipo de remuneração. Os jograis, de classe social inferior, eram artistas itinerantes, exercendo atividades variadas: eram saltimbancos, músicos, atores, apresentadores de marionetes, etc. Não tinham produção artística definida e recebiam alguma remuneração quando se apresentavam. O menestrel, um tipo de jogral, mas tinha um trabalho estável, ligado a um senhor medieval e, sua função era entreter a alta nobreza, interpretando as poesias escritas pelos trovadores. O segrel, poeta provençal que também andava de terra em terra, sua função aproxima-se da do jogral, visto que, além de executante e de cantor, sabia compor cantigas, sendo retribuído pelos seus serviços poético-musicais.
Os poetas entravam na categoria do canto popular, por meio de romances, canções de gesta, de danças, etc. Doralice Alves de Queiroz faz uma abordagem ampla e rica desse período da história poética, passando pela poesia heróica, uma das primeiras expressões literárias, modelada pela tradição oral. Estrutura que privilegia os ritmos melódicos, assegurando assim a preservação do texto pela memória.
Na Idade Média à mulher casada não era permitido os prazeres da poesia, das canções e recitais públicos. A elas cabia o “gineceu” - local exclusivo em que desenvolvia várias atividades como: canções de fiar, canções de gesta, romances e serões literários. Era espaço privilegiado para a voz feminina. Local de devaneio, confidência e cumplicidade. Eram grupos liderados por matronas sábias, que repassavam suas experiências para mantê-las e perpetuá-las na memória oral. Na vida privada as mulheres conservavam a leitura dos romances; na vida pública, eram os homens que cantavam, agiam, representavam e eram conhecidos como autores das canções. Entretanto, inquiridos sobre seus repertórios, assinalavam ter aprendido com as mães, as tias, as avós, que lhes cantavam os romances no espaço privado do lar. A autora assinala que a abordagem passa pela tese de Sílvio Romero de que: “as mulheres não são somente arquivo das tradições orais, mas, sobretudo, autoras de muitas delas.”
A remessa de publicações para o Brasil, teve início no período do descobrimento e era feita sob estrita análise de censores, principalmente para os estados do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará, nesse pacote, chegavam muitos folhetos de cordel, a maioria sobre feitos heróicos e histórias de princesas, como as histórias de Carlos Magno, Os doze pares de França, Paixão de Cristo, Dona Inês de Castro, Donzela Teodora, Santa Bárbara e Reinaldo de Montalvão, dentre outros. Sendo assim, a nossa literatura popular, quando assume identidade própria, está fincada no romanceiro da Idade Média, cujas produções ocorreram na Península Ibérica, Países Saxônico, Germânicos e também da Holanda, tanto do ponto de vista dos conteúdos – novelas de cavalaria, grandes batalhas, romances, que aqui foram transportados para as lutas do cangaço, a religiosidade popular, dificuldades com as grandes secas e enchentes, e as histórias de animais (sempre com um cunho moralizante); como das formas – obedecem as mesmas dimensões gráficas de tamanho e paginação. Os romances, as grandes narrativas devem ser elaboradas em sextilhas, com 32 páginas; os contos de animais e abêces, em quadras, sextilhas ou setílhas de 8 páginas; também nas grandes pelejas e cantorias o critério permanece, mas a forma mais utilizada é a décima. Cabe aqui lembrar, que essa modalidade recebeu, no início do século XX, novas criações de cantadores brasileiros.
A autora coloca uma nota de Rodolfo Coelho Cavalcante, publicada pelo Correio popular, de Campinas, 1982, que vale a pena transcrever, em que diz:
“Não adianta escrever poemas, trovas ou estrofes que não sejam em sextilhas, setilhas, décimas, setissilábicas ou em decassiílabos, e vir dizer que é Literatura de Cordel. Muitos eruditos andam escrevendo opúsculos até em prosa dizendo ser Literatura de Cordel.
Quando os versos são compostos em forma de narrativa, tem de ser em sextilhas […]. E assim o poeta vai continuando a sua narração arte completar 8, 16 ou mesmo 32 páginas – as mais usadas. Em cada página cabem cinco estrofes [sendo em sextilhas]. Na primeira, apenas quatro – para que o título da história, do folheto ou do romance fique mais destacado, bem como o nome do autor […].
O tamanho do folheto não deve ultrapassar 11-16 cm. Quando maior ou menor, perde sua característica de cordel.
Não adianta o poeta mostrar eruditismo sem colocar as palavras difíceis em seus respectivos lugares. O cordel sempre foi um veículo de aceitação nos meios rurais e nas camadas chamadas populares, porém precisa arte e técnica de que escreve. Um folheto mal rimado e desmetrificado é um dinheiro perdido de que empresa a sua edição. Existem folhetos que se tornam clássicos, quer pelo seu conteúdo, quer pela sua versificação. Precisa também muito cuidado na colocação do título, que deve ser rápido, sucinto e, ter seu “ponto focal” de atração para os leitores”
Esta pesquisa não está fechada. Ela é um norte, um rumo para outras abordagens, na verdade, posso dizer – uma provocação, que suscite o interesse pela busca de mais informações.
O I Encontro de poetas populares e rodas de cantoria, em sua primeira edição abriu espaço para o tema A produção feminina na literatura de cordel, em outubro de 2009. Nesta data participaram do Encontro Maria Rosário Pinto, Dalinha Catunda e madrinha Mena. Dalinha chegou com o folheto Saias no cordel, Papo de Mulher e As três Marias; Eu tracei um panorama teórico da literatura de cordel; e, Madrinha Mena com sua viola, suas histórias e canções, que costuma cantar nas Plenárias da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. A partir dessa data Dalinha teve a ideia de criarmos um blog dedicado a produção feminina, daí nasceu o Cordel de Saia. Contatamos algumas poetas, procurando seguir seus sites e/ou blogs e publicando suas produções nas janelas Prata da Casa (quando membro da ABLC e em Cordel de Saia convida (para poetas não membros da ABLC).
Após levantamento, observamos que a Cordelteca – Memória da literatura de cordel, da Biblioteca Amadeu Amaral/CNFCP/Iphan/Minc, www.cnfcp.gov.br, tem hoje mais de 80 poetas mulheres e 160 títulos. As gestoras do blog Cordel de Saia têm sido constantemente procuradas por escolas, alunos universitários e professores em geral para subsidiar oficinas, tese de mestrado e doutorado, nos vários estados da federação. Estão disponíveis para eventos como palestras, recitais e oficinas. A pretensão não é ensinar a fazer poesia, mas divulgar a literatura de cordel como literatura que transcende os tempos e utilizá-la como ferramenta interdisciplinar nas escolas.
A tese de mestrado de Doralice Alves de Queiroz, Mulheres cordelistas – percepção do universo feminino na literatura de cordel, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários, da UFMG, em 2006, analisa os perfis de mulheres no percurso da história da literatura oral e mais recentemente de cordel. Suas produções num reduto essencialmente masculino. Mas, não devemos esquecer que sempre coube a mulher a educação familiar, a transmissão dos conhecimentos e das tradições orais: cantigas, lendas, e costumes.
A primeira mulher que publicou, em 1938, o fez sob pseudônimo masculino, somente a partir de 1970 é que se pode verificar a autoria feminina em publicação de folhetos de cordel. A figura da mulher sempre apareceu com características de – virtude, honestidade, beleza e, sob a ótica masculina e, com cunho moralizante. A mulher, na sociedade patriarcal, era reclusa, aos cuidados do lar e a educação dos filhos, à satisfação social do marido. Sua educação não ia além da possibilidade de contar histórias e contos de encantamento para os filhos, das cantigas de ninar; ler e escrever livros de receitas, quando muito. Valia o jargão: “se uma mulher aprende a ler, será capaz de receber cartas de amor”. A estrutura de reclusão era imposta de forma muito velada e justificada como “zelo familiar”. Havia os gêneros mais adequados para as mulheres, face à moral e os bons costumes. Ainda assim, algumas mulheres, neste jogo de poder burlavam a vigilância patriarcal ou dos maridos e apoderavam das formas poéticas executadas pelos homens Veja a quadrinha popular do início do século XX, abaixo:
“Menina que sabe muito
É menina atrapalhada,
Para ser mãe de família,
Saiba pouco, ou saiba nada.”
A mulher, no início do século XX, quando os folhetos de cordel proliferaram no Nordeste, na ausência de jornais, rádios e televisão, era descrita como: princesa – obediente e calada diante dos valores paternos, da sociedade e da religião; mãe devotada, esposa exemplar - àquela que protege o lar e filhos dos perigos, defensora da moralidade. O contrário disso era descrito como perigos para a manutenção da estrutura família. A mulher que se atrevesse a elaborar versos de cordel, era vista como em luta contra o diabo, a serpente e, isto como castigo por suas ações. A prostituição é tema de contraponto relevante entre poetas para exemplificar e exaltar a virtude e castigar as atitudes “inadequadas para uma mulher”, dessa forma fazia-se valer os valores da moralidade vigente.
Uma das primeiras descobertas de mulher escrevendo cordel foi o folheto publicado em 1938, sob o pseudônimo de Altino Alagoano, pseudônimo de Maria das Neves Batista Pimentel, filha do poeta e editor Francisco das Chagas Batista. Nestes primeiros momentos de composições femininas, elas ainda reproduzem os valores temáticos masculinos. Somente recentemente esses valores foram deixados de lado e as mulheres buscam firmar suas próprias visões do mundo e da sociedade. Dentre essas mulheres cito Salete Maria, Dalinha Catunda, que rompem com a acomodação feminina e “viram a mesa” em suas abordagens ousadas – ora de clamores por valores sociais não respeitados, denúncias políticas e, abordam também o caráter de humor – um dos marcos da poesia de Dalinha Catunda; Bastinha Job, poeta e professora, que leva a literatura de cordel para a Universidade, também preocupada com linguagem e temáticas femininas; Creusa Meira, que discute os problemas de uma sociedade em que a mulher ainda busca sua afirmação; Nelcimá de Moraes, também professora, que leva para seus alunos a musicalidade da poesia de cordel como ferramenta interdisciplinar; Josenir Lacerda, Anilda Figueiredo, dentre outras tantas mulheres que firmam a personalidade feminina no universo masculino da literatura de cordel.
Todas, com base em suas vivências, expõem as feridas de uma sociedade patriarcal e coalhada de hipocrisias e falsos moralismos.
Vejamos quem são estas mulheres poetas:
Salete Maria da Silva é cordelista, professora e advogada, necessariamente nesta ordem. Reside entre Juazeiro do Norte-Ceará e Salvador-Bahia (Brasil). Sua poesia é emancipatória e contra preconceitos. É apologista do pluralismo cultural. Seu trabalho é utilizado em cursos, palestras e debates. Suas temáticas são múltiplas, com destaque para as questões marginais e periféricas. Sua ênfase é nos direitos humanos, sobretudo de mulheres e homossexuais. Salete Maria é, principalmente, cordelírica total. Acompanhe um de seus muitos poemas, cuja temática central é a liberdade para a vida, em todas as suas manifestações:
Lugar de mulher
Do ponto onde me encontro
Na janela dum sobrado
Daqui donde me defronto
Com meu presente e passado
Fico metendo a colher
Do ‘meu lugar de mulher’
Neste mundão desgarrado
Do meu ângulo obtuso
Num canto da camarinha
Afrouxo um parafuso
Liberto uma andorinha
Desmancho uma estrutura
Arranco uma fechadura
Desmonto uma ladainha
Reza a história do mundo
Que mulher tem seu lugar
É um discurso ‘corcundo’
E prenhe de blá-blá-blá
Eu que ando em toda parte
Divulgo através da arte
Outro modo de pensar:
Lugar de mulher é quarto
Sala, bodega e avião
Lugar de mulher é mato
Cidade, praia e sertão
Lugar de mulher é zona
Do Estado do Arizona
À Vitória de Santo Antão
Lugar de mulher é sauna
Capela, bonde, motel
Lugar de mulher é fauna
Terreiro, campus, quartel
Lugar de mulher é casa
Seja na Faixa de Gaza
Ou no Morro do Borel
Lugar de mulher é cama
Seresta, parque, novena
Lugar de mulher é lama
Escola, laje, cinema
Lugar de mulher é ninho
Dos becos do Pelourinho
Às águas de Ipanema
Lugar de mulher é roça
Riacho, circo, cozinha
Lugar de mulher é bossa
Reisado, feira, lapinha
Lugar de mulher é chão
Das ruelas do Sudão
Às veredas da Serrinha
Lugar de mulher é mangue
Deserto, vila, mansão
Lugar de mulher é gangue
Novela, birô, oitão
Lugar de mulher é mar
Das praias do Canadá
Ao céu do Cazaquistão
Lugar de mulher é ponte
Trincheira, jardim, salão
Lugar de mulher é fonte
Indústria, baile, fogão
Lugar de mulher é mina
Do solo de Teresina
Ao Morro do Alemão
Lugar de mulher é barro
Palco, metrô e altar
Lugar de mulher é carro
Camarote, rede, bar
Lugar de mulher é trem
Dos caminhos de Belém
À serra do Quicuncá
Lugar de mulher é show
Favela, brejo e poder
Lugar de mulher é gol
Ringue, desfile e lazer
Lugar de mulher é creche
Das bandas de Marrakech
Às vilas do ABC
Lugar de mulher é serra
Obra, beco e parlamento
Lugar de mulher é guerra
Missa, teatro e convento
Lugar de mulher é pia
Das tendas de Andaluzia
À Santana do Livramento
Lugar de mulher é tudo
Por onde possa passar
Seja pequeno ou graúdo
Seja daqui ou de lá
Lugar de mulher é Terra
Mas não onde o gato enterra
O que precisa ocultar
Lugar de mulher é dentro
Mas também pode ser fora
Lugar de mulher é centro
Que a margem não ignora
Lugar de mulher é leste
Norte, sul, também oeste
De noite, tarde e aurora
De minha perspectiva
Mulher não tem ‘um lugar'
Onde quer que sobreviva
Pode ser seu habitat
Lugares existem zil
Eu mesma sou do Brasil
E vivo no Ceará!
(Salete Maria)
Dalinha Catunda, Maria de Lourdes Aragão Catunda, poeta popular, natural de sua Ipueiras, CE, de onde tira toda a sua inspiração, nos apresenta uma poesia leve e que brota da alma, borbulhante como água de uma fonte que nunca se esgota. Sua temática é sempre corajosa, carregada de humor e com rimas impecáveis. Sua criatividade/atividade é intensa, explode ao menor sinal. Basta cutucá-la com um tema qualquer, que logo começa um novo poema. Dalinha nos mostra o que mais a caracteriza poeticamente – versatilidade na criação temática, na arte da composição, da rima e da estruturação das orações. Seus versos fluem, com o humor, que lhe é peculiar. Nos versos abaixo, apresenta as demais poetas e fala de suas características mais peculiares. Os substantivos, verbos e adjetivos são próprios do linguajar feminino.
Saias no cordel
1
Sou poeta cordelista
Nascida lá no sertão.
Ipueiras é minha terra,
O Ceará é meu rincão.
Adoro ser nordestina.
Levo comigo uma sina,
Amar meu agreste chão.
2
Minha mãe fazia versos,
E gostava de declamar.
Foi professora primaria,
Com ela aprendi a rimar.
Ter gosto pela cultura,
Abraçar a literatura,
E o velho cordel amar.
3
E assim me fiz mulher
Abraçando a poesia.
Meu mundo encantado
Era cheio de magia.
Talvez um pouco irreal.
Mas para mim era ideal,
Pois era o que eu queria.
4
A mulher abriu caminhos,
Difíceis de percorrer.
Pôs os pés na estrada.
Pra demonstrar seu saber.
Foi bem grande sua luta
Mas ficar sempre oculta
Impossível conceber.
5
Durante muito tempo
Fomos só inspiração.
Musa que os poetas,
Traziam no coração.
Sonhávamos ter um dia
Nossa popular poesia
Com farta publicação
6
Não estou insinuando
Que a mulher não atuava.
Ela já fazia seus versos
Apenas não publicava.
Mostrava sua alegria
Nas rodas de cantorias
E aplauso conquistava.
7
Apesar do machismo,
A mulher se aventurou,
Mesmo analfabeta,
Entrou na roda e cantou
Sem ligar pro: ora veja!
Encarando as pelejas
O homem desafiou.
8
No livro “Cantadores”
Pra minha satisfação
Conheci cantadoras.
Uma chamou atenção
Por ser bem animada,
E cheia de presepada,
Zefinha do Chabocão!
9
Pelo Nordeste afora,
Nas rodas de cantoria,
Rita Medeiros cantava,
Chica Barrosa se via.
Até Maria Tebana,
Agia naquelas bandas,
E aplauso garantia.
10
Quando a mulher decidiu,
Por imprimir seu cordel.
Foi nome masculino,
Que ela botou no papel.
Essas pobres criaturas,
Sofriam com a tortura,
Do patriarcado cruel.
11
Mas tudo modificou,
Hoje a coisa é diferente.
O cordel está em festa
E a mulherada presente.
Homem agora é parceiro
Até virou companheiro,
No cordel e no repente.
12
Hoje as cordelistas,
Assumem seu lugar.
Na Bahia, Pernambuco,
Paraíba e Ceará.
O Nordeste brasileiro,
Há muito virou celeiro,
De mulheres a versejar.
13
Pelos cantos do Brasil,
A mulher faz poesia.
Temos em Juazeiro,
A boa Salete Maria.
Que audaz em sua meta,
Tem postura correta,
E desbanca hipocrisias.
14
Na Paraíba temos,
Nelcimá de Morais.
Mestra e cordelista.
É engajada demais.
Pesquisando o cordel,
A mulher e seu papel,
Em tempos medievais.
15
Já Josenir Lacerda,
Com Bastinha, é fato,
As duas são pioneiras
Da academia de Crato.
Trazem com devoção
O cordel no coração,
Dando a ele bom trato.
16
Tem Maísa Miranda,
É safra lá da Bahia.
Temos Ilza Bezerra
Recebendo honrarias.
O cordel está crescendo
Mulheres aparecendo,
Sa1ve os novos dias.
17
Muitas mulheres agem
Neste mundo do cordel.
Ativas e anônimas
Respeito cada papel.
Mas pra falar a verdade,
A minha felicidade
É vê-las rasgando o véu.
18
Pesquisadores buscam,
Nossa arte revelar
Cordel de boca em boca.
Chega a todo lugar.
Agora com a internet
Esta obra do Nordeste.
Ficará mais popular.
19
Eu sempre fui inquieta
E cheia das novidades.
Enxerida como que!
Para falar a verdade.
Amasiada com cordel,
Faço dele meu corcel,
E minha felicidade.
20
Sou Dalinha Catunda,
Não foi minha intenção,
Sobre o cordel feminino,
Fazer vasta explanação.
Só um parco recado:
Que se abra o mercado
Para nossa produção
(Dalinha Catunda)
Em minhas incursões na arte da poesia de cordel firmo a face da mulher como autora, com o poema A mulher e sua trilha, poema dedicado a Dalinha Catunda, que muito me estimula na arte da composição poética.
A mulher e sua trilha
Divina musa! inspirai-me
Para narrar uma história
Que, os menestréis me contaram.
Mulheres de amor e glória,
Ilustraram os romances
De beleza e vitória
2
Meus poetas cordelistas
Hoje, venho vos narrar,
As histórias do passado,
De princesas vou falar,
Vivendo encasteladas,
Querendo o amor desfrutar
3
E muitas destas princesas
Em noites de escuridão
Choraram por seus amores
Naquela horrível prisão
Sonhando contos de fadas
De amores e paixão
4
Mas isto foi lá na Europa
Aqui a vida é mais dura
Não há príncipe encantado
Somente a desventura
Marcada pelo cangaço
E um mundo de amargura
5
Sem desfrutar do amor
Mulheres, quase meninas,
Transformaram suas vidas
Num castelo de ruínas
Filhas de pais muito austeros
Amargaram tristes sinas
6
E quando se rebelavam,
Seus pais desorientados
Reféns da ignorância
Davam-lhes as costas, coitados!
Sem imaginar que um dia
Sem preconceito ou pecados
7
Aquelas mesmas mulheres
Que lutaram por amores
De suas prisões voaram,
Superando suas dores
Cantando e trabalhando
Desenvolvendo pendores
8
Com amor e com trabalho
Conquistaram seu espaço
Ampliaram os horizontes
Vivendo sob o compasso
Do pensamento liberto
Nunca pensando em fracasso
9
Nosso mundo evolui
Hoje a mulher determina
Que norte dará à vida
Mesmo sendo nordestina
Não carrega o estigma
Daquela pobre menina
10
Tristes tempos do passado
Quando as meninas caseiras
Sem muita oportunidade
Só casamento e canseiras
Cheias de filhos, coitadas!
Era muita trabalheira
11
Hoje ela tem profissão
Escolhe a vida que quer
Sem preconceito que diga
Se meretriz, ou qualquer!
Conquistou a felicidade
O orgulho de ser mulher
12
No mercado de trabalho
Conquistou sua projeção
Em outros tempos diriam
Isso é conversação
Num mundo tão masculino
É mesmo pura invenção
13
Estatísticas demonstram
Em percentual seguro
A mulher ultrapassou
Da universidade, o muro
Soma número relevante
Demarcando o seu futuro
14
Além de educadoras,
De propensões naturais
São cientistas, sim senhor!
Estudam mapas astrais,
Olhos observadores,
Nos círculos celestiais
15
Antes os olhos só viam
Estrelas de romantismo...
Indagam solenes, agora,
Sobre o ambientalismo
Não esquecendo sequer,
De estudar o ecologismo...
16
São mulheres engajadas
Crescendo junto com os filhos,
Os companheiros percebem
Na profissão os seus brilhos
À braços com suas mulheres
Têm que andar nos trilhos
17
Com o futuro garantido
E sempre pra frente olhando
Uma vida mais tranqüila
Assim, vão assegurando,
Vivendo de seus trabalhos
Elas vão se orgulhando
18
São as mulheres de hoje
Cumprindo suas jornadas
São mães e profissionais
Caminhando nas estradas
Sustentando os seus lares
Amando e sendo amadas
(Rosário Pinto)
(Dedicado a Dalinha Catunda,
Mulher, guerreira e poeta popular)
A Academia dos Cordelistas do Crato – ACC tem em seu quadro de acadêmicos poetas como Josenir Lacerda, Bastinha Job, Anilda Figueiredo e Maria do Rosário Lustosa, que publicou, em versos, a história de Juazeiro do Norte, em 100 anos de Juazeiro, 2011, dentre tantas outras mulheres que se destacam no universo da literatura de cordel.
A opção por postar os poemas na íntegra é relevante para a continuidade da abordagem das temáticas que mais afetam o universo feminino - suas angústias, preocupações, reivindicações e posicionamentos diante das políticas públicas que legislam sobre a saúde a vida profissional e familiar, os deveres e direitos da mulher.
A opção por postar os poemas na íntegra é relevante para a continuidade da abordagem das temáticas que mais afetam o universo feminino - suas angústias, preocupações, reivindicações e posicionamentos diante das políticas públicas que legislam sobre a saúde a vida profissional e familiar, os deveres e direitos da mulher.
Bibliografia:
Santos, Vanusa Mascarenhas. Estratégias de (in)visibilidade feminina no universo do cordel. In: V Enecult – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura: Faculdade de Comunição / UFBa, Salvador, BA, 27 A 29 DE MAIO DE 2009.
Silva, Salete Maria da. Lugar de mulher. [S.l.:s.n., 20--]
Dalinha Catunda [Maria de Lourdes Aragão Catunda]. Saias no cordel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2009. 8 p
Pinto, Maria Rosário. A mulher e sua trilha, 2010 (texto inédito)
Lustosa, Maria do Rosário. 100 anos de Juazeiro registrados em cordel. Juazeiro do Norte: SESC, 2011.
Oi, Rosário! Parabéns pelo excelente trabalho! bjos!
ResponderExcluirA flor girando, amarela
ResponderExcluircomo os raios do deus-sol
anunciando o arrebol
um sorriso da flor-bela
uma boca enchendo a tela
de vermelho fulgurante
um sorriso radiante
os dentes tão perolados
que anunciam pecados
num cordel tão flamejante
Adoro seus Blogs e seus textos, Poeta !
Vou visitar seu blog sempre que puder ,pois é ótimo. Sou escritora e tenho 3 livros publicados e dois blogs resutantes de 2 dos meus livros que são: Livro: " A Musa sem mácara - Imagens da mulher na música popular brasileira - BLOG: www.musasemmascara.blogsport.com
ResponderExcluirLivro: "Sertão Des-Encantado - BLOG: www.sertaodesencantado.blogspot.com
Como não sou boa em informática meus blogs são amadores, mas acho que valem a pena visitá-los.